Parashiôt 34 a 43 (B`midbar / Números)

 

Parashá B´midbar - No Deserto

 

34ª Porção da Torá - Números 1:1 a 4.

Quando o tabernáculo seguir adiante,os l’vi’im deverão desmontá-lo e armá-lo no novo lugar, qualquer pessoa que tentar executar esta tarefa será executada - B’midbar 1:51 (BJC).

O Cometário da Beit Chabar sobre esta Parashat : No deserto não há edifícios de escritórios ou fábricas. Portanto, quem vive no deserto, provavelmente não tem emprego. Não haverá um chefe dando ordens e nenhum subalterno.

No deserto não há cidades ou bairros -você não está nem no lado certo nem no lado errado dos trilhos.

No deserto não há supermercados ou lojas de departamentos. A pessoa teria de comer maná dos Céus e usar o mesmo par de sapatos por quarenta anos.

Eis por quê, afirmam nossos sábios, D'us nos outorgou a Torá no deserto. Se Ele nos tivesse dado a Torá em Wall Street, Ele teria de decidir a quem designar como diretor e quem controlaria o empreendimento. Se a tivesse dado a nós na Terra Santa, teria de decidir se Ele a deseja na Jerusalém religiosa, na mística Tsefat ou na ultra-moderna Tel Aviv. Ou talvez Ele tivesse preferido um kibutz marxista ou mesmo uma colônia neo-sionista?

D'us não desejava acionistas em Sua Torá, nenhuma estrutura corporativa, nenhum contexto social ou político. Na verdade, contexto algum. Somente nós e a Torá”.

Jonathan Allen, começa seu comentário sobre esta Parashat dizendo que: Este versículo vem depois que o segundo censo de Israel foi feito por Moshe, Aharon e seus doze assistentes, um de cada tribo.

Neste censo só foram contados os homens na idade de vinte até quarenta anos, os quais eram capacitados para o serviço militar (B'Midbar 1:3) e não inclui a tribo de Levi (vv. 47-49).

Aqueles que trabalham com Moshe e Aharon eram os líderes das clãs em suas tribos. O versículo seguinte mostra com detalhes duas das maneiras em que os levitas eram diferentes das outras tribos: transportando a Arca e seu conteúdo, enquanto em trânsito, acampando perto como uma cerca humana ao redor do tabernáculo .No versículo 51, repete estas duas funções atribuídas aos levitas e acrescenta a proibição para o restante dos filhos de Israel e os estrangeiros,que foram proibidos,sob pena de morte, se eles se aproximassem da tenda da Congregação.”

Os comentaristas discutiram quem seria o estrangeiro. Rashi sugere que é um não levita ou mesmo não israelitas que tenta fazer parte no trabalho dos levitas;. Chizkuni afirma que mesmo se aplica a um levita que tenta executar uma função diferente da que ele tenha sido atribuído. Talvez o exemplo mais conhecido desta instrução é o homem que morreu quando o rei David estava levando a Arca para Jerusalém: "E quando chegaram à eira de Nacon, Uzá estendeu a mão para a arca de D´us e tentou segurá-la, porque os bois tropeçaram. E a ira do Senhor se acendeu contra Uzá, e D´us o feriu ali por causa de seu erro, e ele morreu ali junto à arca de D´us. "(2 Sam. 6:6 -7, ESV).

Por outro lado, o Rabino Marcelo Guimarães em seu comentário acerca desta Parashat (Bemidbar pág.43 e 44), nos mostra a maneira que o Eterno estabeleceu onde as tribos se acampassem e o que diziam os seus estandartes.Tenhamos sempre em mente que a Tribo de Levi, acampava-se em volta do tabernáculo, criando uma espécie de barreira humana.Vejamos então como era esta ordem:

Lado Leste, em frente das tendas de Moisés,Aarão e Gérson, acampava-se as tribos de Judá,Issacar e Zebulom. O estandarte com suas cores correspondiam às cores das pedras que o Kohen haGadol levava em seu peitoral com a seguinte inscrição: “Levanta-te ó D´us e dissipados sejam os teus inimigos e fujam diante de ti os que te odeiam.” (Num.10:35).

Do lado Oeste, acampava-se as tribos de Efraim, Manassés e Benjamim e o estandarte deles dizia: “ A nuvem do Eterno, estava sobre eles de dia, quando partiam do acampamento.” (Num.10:34).

Do lado Sul, acampava-se as tribos de Rúben, Simeão e Gád.No estandarte deles estava escrito a mais célebre frase da Torá: “ Shemá Yisrael,Adonai Eloheinu, Adonai echad.”(Deut.6:4).

Do lado Norte, acampava-se as tribos de Dan, Aser e Naftali, no estandarte deles estava escrito: “ E quando pousava a arca Moisés dizia:repousa o Eterno entre os miríades dos milhares de Israel.” (Num.10:36).

As Escrituras da Nova Aliança mostram claramente uma continuação da autoridade competente. Depois que Ele havia curado um homem de tzara'at ( lepra), Yeshua disse-lhe: "Veja que você não diga a ninguém, mas como um testemunho para as pessoas, vá e deixe o cohen examiná-lo, e oferecer o sacrifício que Moisés ordenou." (Mat.8:4, BJC), para garantir a autoridade dos sacerdotes em pronunciar formalmente se alguém estava limpo ou imundo, conforme prescrito pela Torá.

Quando um homem na multidão buscou ajuda de Yeshua na resolução de uma disputa de herança, Yeshua se recusou, dizendo: "Meu amigo, quem me nomeou juiz ou árbitro entre vós?" (Lucas 12:14, BJC), recusando-se a chamar para Si mesmo a autoridade do sistema judicial na Terra. Da mesma forma, Rav Sha'ul disse à comunidade de Roma, "Todos devem obedecer às autoridades governamentais. Pois não há autoridade que não é de D´us, e as autoridades existentes foram colocados onde estão por D'us, portanto, quem resiste à autoridade, resiste a quem D´us instituiu, e aqueles que resistem trarão sobre si mesmos condenação. "(Rom. 13:1-2, BJC), enquanto ele incentiva Tito em seu ministério : "Adverte-lhes que estejam sujeitos aos governadores, às autoridades, que sejam obedientes, e estejam preparados para toda boa obra." (Tito 3:1, NVI).

Estes são exemplos de autoridades não eclesiasticas, mas os mesmos princípios, com base em torno da idéia de que "D'us não é um D´us de confusão, mas de paz." (1 Cor.14:33, ESV), estende-se aos reinos espirituais também. Enquanto o escritor aos Hebreus acrescenta:" Obedeçam aos seus líderes e submetam-se a eles, pois eles velam por vossas almas, como aqueles que terão de prestar contas. "(Heb. 13:17, ACF).

Como então, nós, crentes em Yeshua HaMashiach somos diferentes da média dos israelitas no deserto ou das pessoas da rua? D'us não faz acepção de pessoas, mas tem um requisito básico: “ ...Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Yeshua HaMashiach para perdão dos vossos pecados e recebereis o dom do Ruach HaKodesh.” (Atos 2:38,BVN). Sendo assim, façamos o que diz em Hebreus 4:16– “ ...nos aproximemos confiantes ao trono a partir do qual D´us concde sua graça, para recebermos misericórdia e encontramos graça no momento de necessidade.”BJC). Hoje ninguém precisa desmontar ou montar uma estrutura física para se aproximar de D´us, não precisamos acampar fora do tabernáculo, pelo contrário hoje somos habitação do Ruach HaKodesh,somos templo do Espírito de D´us e sem dúvida, deixamos de ser "o estrangeiro". Todos nós podemos e devemos ter uma relação pessoal com nosso Pai Celestial, “vivendo de um modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no completo conhecimento de D´us”.( parafraseando Colossenses 1:10).

Que neste dia 15 de Maio, quando comemoramos a entrega da Torá a Moshe no Monte Sinai e a descida do Ruach haKodesh sobre os primeiros discipulos de Yeshua, abramos os nosso corações e mentes para receber a Palavra do Eterno, o poder e os dons do Ruach HaKodesh(Espírito Santo) e sermos testemunhas que Yeshua HaMashiach é o Senhor, para glória de D´us Pai.

 

Que Ele nos abençoe!

 

Salvador, 10 de Maio de 2013.

Rosh Jaime Araújo

 

Parashá 35- Nassô – Faça.

Torá - B´midbar / Números 4:1 – 7:89.

Haftará – Shoftim/Juízes 13:1-25.

B´rit Hadashá - Atos 21:17-26.

 

B´midbar/Números 5:7 “Confessará o pecado cometido...”. (BJC)

 

Estamos aqui diante de uma poderosa declaração bíblica, capaz de mudar situações difíceis, especialmente quando pecamos contra D´us e contra o nosso próximo.

Dr.Jonathan Allen começa o seu comentário sobre este texto dizendo que: “A palavra de abertura do texto - é uma forma da raiz, para jogar ou para lançar. É usada também para significar tanto "confessar abertamente e livremente", como por exemplo: "confessar, fazer uma confissão." Aqui então, isso significa "e eles confessarão". Plaut acrescenta a palavra 'público', a confissão deve ser em público. A Septuaginta traduz como "confessar, no sentido de dizer para fora, dar a conhecer, declarar”, um modo que nos comentários de Jacob Milgrom, 'Declare' – o arrependimento do penitente deve ser articulado”. (1).

 

Rabino Samson Raphael Hirsch (1808-1888 EC), afirma que este texto é o ponto em que "o grande princípio de longo alcance na Torá é dado: "a de que a Torá coloca homens e mulheres em igual responsabilidade por todas as transgressões contra a lei." Qualquer pessoa, independentemente da sua posição ou status dentro da sociedade pode e deve confessar seu pecado.

 

Mas, por que a confissão pública, por que devemos fazê-la?

Segundo a maioria dos dicionários, a palavra "confessar tem dois significados e são intimamente ligados. O primeiro é "reconhecer ou confessar a culpa, crime, delito, fraqueza, etc.", para declarar ou reconhecer (os pecados), em especial a D´us ou um Cohen (sacerdote, pastor, etc) para obter absolvição." Este é o significado visto em nosso texto e em muitos outros versos da Torá, por exemplo: "quando ele percebe a sua culpa em qualquer um destes pecados e confessa o que cometeu..." (Vayicrá 5:5, ESV) e coletivamente: "Aharon porá ambas as suas mãos sobre a cabeça do bode vivo, e sobre ele confessará todas as iniquidades dos filhos de Israel, e todas as suas transgressões, todos os seus pecados."(Vayicrá 16:21, NVI). 

 

Após a confissão, o relacionamento com D'us é restaurado: "Se eles confessarem as suas iniquidades e a iniquidade que seus pais na infidelidade cometeram contra mim, e também em andar contrariamente para comigo... então me lembrarei da minha aliança com Ya'akov, e me lembrarei da minha aliança com Yitzkchak e o meu pacto com Avraham, e me lembrarei da terra."(Vayicrá 26:40 e 42 NVI).

Essa ideia é bastante familiar para o salmista, quando diz: "Confessei o meu pecado a ti, e minha iniquidade não escondi, eu disse: “Confessarei a minha culpa a Adonai”, então tu, tu perdoaste a culpa do meu pecado. "(Salmo 32:5, BJC).

Apóstolo Tiago também tem em vista esta ideia, quando ele escreve: "Portanto, reconheçam abertamente seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros, para que possam ser curados." (Tiago 5:16, BJC).

 

Mas, o segundo significado de 'confessar' talvez seja ainda mais importante. O Rav Sha'uldeveria estar pensando desta forma quando ele escreve, "para que em honra ao nome dado Yeshua, se dobre todo joelho no céu, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que o Messias Yeshua é o Senhor." (Filipenses 2:10 - 11, BJC). Isso tem a força tanto para admitir a verdade do senhorio de Yeshua em nossas vidas e quanto declarar fidelidade a Ele. Assim como confessar o pecado é o primeiro passo para o arrependimento, confessar Yeshua é o primeiro passo para a salvação (Romanos 10:9).

Apóstolo Yochanan (João) sublinha a importância desta confissão no mundo espiritual e nos diz: "Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar todos os pecados e nos purificar de toda a injustiça.” (1 João 1:9, BVN). Esta é uma das mais fortes declarações acerca de perdão de nossos pecados em todo o Novo Testamento.

 

A segunda parte do versículo que uso como texto básico (B´midbar 5:7), traz algo esquecido em nossas comunidades e denominações: “e fará restituição plena pela culpa, acrescida de 20% dando-a a vítima de seu pecado”. Raramente ouve-se uma mensagem sobre restituição. Hoje em dia ouvimos mais mensagens sobre prosperidade que qualquer outro assunto. Mas não tem com o prosperar se não restituir a falta cometida.

“Isto traz-nos agora ao círculo quase completo, de volta à questão da confissão pública. A nossa confissão de fé deve ser pública, tanto em palavras como em atitudes - isto é, temos que ser coerentes, caso contrário a nossa confissão será invalidada pelas nossas ações.Yeshua nos deu motivo para isso: "Quem me confessar diante de outras pessoas, também será confessado por mim diante do meu Pai Celestial." (Mateus 10:32, BJC). A nossa confissão (o nosso reconhecimento), de que Yeshua Ha Mashiach é Senhor de nossas vidas neste mundo, é a garantia de que Ele vai confessar (reconhecer) diante do Pai Eterno que somos dele. Se não estamos preparados para reconhecê-Lo neste mundo, então ele não vai nos reconhecer no outro.” Dr.Jonathan Allan.

Como lidamos com esta questão hoje?

No decorrer destes meus quase quarenta anos de caminhada com o Eterno, tenho visto muitas coisas boas e ruins nesta área. Muitas vezes ouvi dizer que irmãos tiveram que ir à frente da Igreja para confessar seus pecados, quando na realidade esta confissão deveria ser feita em particular. Não temos o direito de expor a vida de outra pessoa, só porque “sentimos” que temos que fazer. Isso não é o ensinamento que trago aqui. 

 

Por outro lado, precisamos tomar uma atitude de coragem e confessar a Yeshua em toda e qualquer oportunidade, ainda que isso implique em constrangimento e sair da sua “zona de conforto”, precisamos ser coerentes com o que cremos e confessamos, pois o Rav Sha´ul deixou bem claro: “Se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor e em teu coração creres que Deus os ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.” (Rom.10:9, BVN).

Que o Eterno nos ajude a confessar os nossos pecados e a nossa fé, trazendo assim glórias ao Seu Nome.

 

No amor de Yeshua Nosso Senhor.

 

Rosh Jaime Araujo.

 

Traduções Bíblicas usadas:

ESV- English Standard Version.

NIV – New International Version.

BJC – Bíblia Judaica Completa.

BVN – Bíblia Vida Nova.

 

1.     - 'Declare' é uma forma moderna da palavra latina medieval, confessare, por sua vez, a partir da Vulgata Latina confiteri, confessar ou reconhecer.

 

Salvador, 28 de Maio de 2015

 

 

Parashá B'há´alotcha – Quando subires.

Torá: B´midbar – Números 8:1- 12:16.

Haftará: Zacarias 2:10 – 4:7.

Brit Hadashá (NT): 1 Coríntios 10:6-13.

 

B’midbar – Números 9:19 Quando a nuvem demorava sobre o tabernáculo muitos dias, os filhos de Israel também se detinham.” (BVN).

Será possível nos esconder da presença de D´us?  Adão tentou ( B´reshit 3:10), e no decurso da história da humanidade outros tentaram, mas será que nós gostaríamos de sair da presença Dele? Certamente que não!

Até aqui já faz quase um ano desde que os israelitas chegaram ao Monte Sinai. A comunidade acaba de celebrar seu primeiro memorial de Pêssach no deserto, longe do Egito. Em seguida, o texto recua para nos lembrar de que:

No dia em que o Tabernáculo foi criado, a nuvem cobriu o tabernáculo, a Tenda do Pacto, e, à noite, uma coluna de nuvem descansava sobre o Tabernáculo à semelhança de fogo até ao amanhecer.” (B'midbar 9:15, JPS); isto é, desde o Tabernáculo tinha sido formalmente erigido e consagrado, a coluna de nuvem e fogo tinha estado lá, no centro do acampamento como um sinal bem visível a todo o povo de Israel.

O Rabino Ovadia Sforno (1470-1550 EC), explica que “depois que (a nuvem) ascendeu, eles viajaram para esse lado (ou direção), onde a nuvem se movia”.

O Rabino Samson Raphael Hirsch (1808-1888 EC),

resume a leitura judaica tradicional deste texto: “A nuvem era o cajado do pastor por meio do qual D’us, o” Pastor de Israel”, anunciou a sua vontade às pessoas que Ele estava levando, onde e quando eles foram acampar, onde e quando levantar acampamento.”.

O Rabino Yaakov ben Asher (1269-1343 EC”.), observa uma nota marginal no Texto Massorético e relata que “esta palavra só aparece duas vezes no Tanack: aqui,” o levantamento da nuvem”, e,” o levantamento do exílio” (Esdras 1:11). Teria sido apropriado que um milagre tenha se realizado para eles (o povo judeu), nos dias de Esdras, assim como foi feito para eles nos dias de Moshe”.

O conceito do levantamento da nuvem entrou para o vocabulário geral. Muitas pessoas relatam que em momentos significativos em suas vidas tiveram alguma visão, que as incentivaram a seguir em frente ou agir; da mesma forma, quando dizem que "a nuvem não levantou", isso é usado para justificar o atraso ou para atrasar uma decisão ou um curso de ação. Embora muitas vezes subjetiva, a frase ganhou um significado importante como um meio de expressar um sentimento da presença de D´us ou a Sua direção nos assuntos dos homens, assim como era para os antigos israelitas.

A nuvem só deu direção para os termos específicos de quando viajar e quando parar, para armar ou desarmar o acampamento. Os israelitas também tinham o Urim e Tumim como um meio de determinar instruções de D'us em outras áreas: "no peitoral do juízo porás o Urim e o Tumim, e eles estarão sobre o coração de Arão, quando entrar diante do Senhor." (Shemôt 28:30, ESV) e Moshe foi ordenado a instruir Josué para” perante Eleazar, o sacerdote, o qual por ele inquirirá segundo o juízo do Urim, perante o Eterno. À Sua palavra eles sairão, e em Sua palavra entrarão, ele e todo o povo de Israel com ele, toda a congregação.” (B'midbar 27:21, ESV). Depois do exílio, este era a maneira que a situação de alguns que afirmam serem sacerdotes foi determinada: "O governador lhes disse que eles não comessem da santíssima comida até que um sacerdote com Urim e Tumim chegasse.” (Neemias 7:65, ESV).

Hoje muitos perguntam como é que vamos saber o que fazer, onde “acampar” e buscar a presença e direção de D'us nestes dias sem os sinais sobrenaturais que foram dados aos israelitas em suas épocas. O Judaísmo tradicional ensina que a profecia cessou logo após o Segundo Templo ter sido construído, declara que tudo está na Torá e que os judeus não dependem de outros sinais. (n. Pesachim 64b).

 

Os Sábios criaram muitas regras e leis a partir das palavras originais da Torá para cobrir quase todas as situações imagináveis; pela aplicação adequada dessas regras, é fácil determinar o que Adonai quer nos fazer ou dizer. Há alguns cristãos que também seguem o mesmo princípio, ensinando que tudo o que precisa saber - todas as regras, todas as orientações que podemos precisar, podem ser encontradas nas páginas da Bíblia. Para ambos os grupos, então, não há necessidade de uma nova orientação divina sobrenatural hoje porque as respostas para todas as perguntas já foram fornecidos através das Escrituras. Ambos os grupos também não são susceptíveis em  aceitar que a presença de D'us pode ou deve ser esperada para se manifestar nestes dias.

Moshe, por outro lado, argumentou com Adonai : “Se tua presença não for comigo, não nos faças subir daqui. Pois como se dará a conhecer que tenho achado graça aos teus olhos, eu e o teu povo? Não é em que tu vais conosco, por isso que somos separados, eu e o teu povo, de todos os outros povos na face da terra?” (Shemôt / Êxodo 33:15-16, ESV). A presença deAdonai entre o Seu povo era essencial para que toda a gente soubesse que Ele estava trabalhando entre eles.

O salmista também parece preocupado em perder a presença de Adonai: “Não me lances fora da tua presença, e não retira o Teu Espírito Santo de mim.” (Salmo 51:11, ESV); ele insiste que seu povo: "Buscai ao Senhor e sua força; buscai a Sua presença continuamente." (Salmo 105:4, ESV), mas, em seguida, afirma: "Para onde me irei do teu Espírito, ou para onde fugirei da tua presença?” (Salmo 139:7, ESV). Não, ele percebe, não há nenhum lugar que a presença de Adonai não possa estar; todos os lugares estão ao Seu alcance. Esta presença é tão grande que a própria Terra está ciente da presença de Adonai: “Treme, ó terra, na presença do Eterno, na presença do Deus de Jacó.” (Salmo 114:7, ESV).

Hoje entramos na presença de D´us, embora Ele esteja sempre ao nosso redor e cuidando de nós, de diversas maneiras:

Nos cultos - falando sobre D’us, o salmista nos diz que: Todavia, tu és santo; aquele que habita entre os louvores de Yisra´el.” (Tehillim/Salmo 22:3 BJC). Essa afirmação é apoiada pelo profeta Zacarias: “Cantai e alegrai-vos, ó filha de Sião, porque eis que venho e habitarei no meio de ti, diz o Senhor.” (Zacarias 2:10, ESV) Quando louvamos a D'us (e o texto não fala sobre qualquer estilo de adoração particular ou expressão, salvo que seja alegre ou espontâneo), abrimos a oportunidade para entrar na presença Dele.

As Escrituras Sagradas nos diz que D´us está presente, em nosso meio.

Segundo Dr.Jonathan Allen, o Eterno está presente quando:

"Em tempos de oração - Yeshua disse aos discípulos: Porque, sempre que dois ou três estiverem reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.” (Mateus 18:20, BJC), a Igreja do Primeiro século provou que isso era assim: “Enquanto eles estavam orando, o lugar em que estavam reunidos tremeu, e todos foram cheios do Ruach HaKodesh (Espírito Santo)." ( Atos 4:31,BJC) . Quando nos reunimos para orar, tanto em conjunto como individualmente , entramos na presença de D'us.

Outra maneira para entrarmos na presença de D´us é em tempos de estudo. “... eles receberam a palavra com entusiasmo examinando o Tanack (VT) todos os dias para ver se o que Sha´ul (Paulo) dizia era verdade.” (Atos 17:11, BJC), ecoando com as palavras de Yeshuaquando Ele pede ao Pai que: ”Separa-os para santidade por meio da verdade, tua palavra é a verdade.” (João 17:17, BJC). Quando estudamos, somos santificados - separados - e recebemos o entendimento dado para pela Palavra da Verdade e pelo Ruach HaKodesh: “Todavia, quando o Espírito da verdade vier, Ele vos guiará a toda à verdade, pois Ele não falará por iniciativa própria, mas o que Ele ouve, Ele vai falar, e lhes anunciará os acontecimentos futuros.” (João 16:13, BJC).

Em tempos de serviço - quando nos envolvemos com as pessoas ao nosso redor e servimo-as, sendo as mãos e os pés de Yeshua, experimentamos Sua presença guiando e orientando-nos: “seus ouvidos ouvirão o comando por trás de vocês: ' Este é o caminho; siga isso!” (Isaías 30:21, JPS)."(1*).

D'us prometeu estar conosco onde quer que vamos: “ADONAI sempre lhe guiará, Ele irá satisfazer suas necessidades no deserto, Ele vai renovar a força de seus membros, de modo que você será como um jardim regado, como uma fonte cujas água nunca falha.” (Isaías 58:11,BJC) e Yeshua confirmou pessoalmente, para todos aqueles que O seguem: "Lembre-se Eu estarei convosco todos os dias, sim, até o fim dos tempos." (Mateus 28:20,BJC).

Devemos, no entanto, buscar a presença de D´us. O salmista insiste que é o único caminho: “Tu me fazes conhece o caminho da vida, em Tua presença há completa alegria, e em Tua mão direita prazer eterno.” (Salmo 16:11, CJB).

Você sabe reconhecer a presença de D'us em sua vida? Você tem experimentado ser guiado por Ele? Se não, então você está perdendo uma das mais ricas bênçãos do reino. Como comunidade somos desafiados a buscar a presença do Eterno e andar nela, Ele sempre esteve presente com o Seu povo, mas muitas vezes demos-lhe as “costas” e perdemos esta bênção. Por que não voltar à Sua presença?  Ele está nos esperando: “Procurem por Adonai enquanto ele está disponível, clame a ele enquanto está próximo.” (BJC).

Que Ele nos abençoe com a luz de sua presença!

 

Versões Bíblicas usadas:

BVN - Bíblia Vida Nova.

JPS - Jewish Publication Society.

ESV - English Standard Version.

BJC - Bíblia Judaica Completa.

 

1* - Dr.Jonathan Allen, Messianic Trust, England 2015.

 

Salvador, 04 de Junho de 2015.

 

Rosh Jaime Araújo

 

 

Parashá 37 Sh´lách lechá – Envia.

 

Torá – B´midbar 13:1 a 15:41.

Haftará – Y´hoshua (Josué) 2: 1- 24.

B´rit Hadashá (NT) – Hebreus 3:7 – 19.

 

A explanação desta Parashá feita pela Beit Chabad começa assim: “O caso trágico dos espiões é um dos mais frustrantes e intrigantes eventos dos registros da Torá. Frustrante, porque como observadores casuais, sentamos com nossas mãos atadas enquanto a história dolorosamente se desenvolve, trazendo com ela resultados tão desastrosos que as ondas de choque continuam a assombrar-nos até hoje. Intrigante, porque é quase inimaginável que uma nação que testemunhou coletivamente a glória e o poder do braço estendido de D'us quando ele os libertou do cativeiro do Egito pudesse questionar Sua capacidade de colocá-los na Terra Prometida. Como justificamos sua perda de fé e qual a conseqüência que isso tem para nós hoje?...”

B´midbar/Números 13:27- 28 “ ...Entramos na terra a qual  você nos enviou,de fato ela goteja mel e leite,aqui está o seu fruto. Entretanto o povo que vive na terra é feroz, as cidades são fortificadas e muito grandes”. (BJC).

 

Este é o início do relatório que os espias trouxeram de volta a Moshe, depois de terem sido enviados em uma viagem de reconhecimento à terra de Canaã. Os Israelitas estavam em Cades-Barnéia. Excepcionalmente, o nosso texto se estende por dois versos, para reunir as duas partes que são separadas por um breve  intervalo . Existem sete  palavras chaves que definem o tom do relatório que vai do versículo 27 ao 29: "você nos enviou", "e de fato" , "entretanto o povo..",  “responderam”, “ em vão”, “terra que devora” e por último “ éramos como garfanhotos”. 

Don Isaac Abravanel (1437-1508 EC), destaca que falar com todas as pessoas e mostrar a elas os frutos da Terra, antes de apresentarem-se a Moshe foi o primeiro dos sete crimes de que os espias cometeram.

A primeira palavra-chave  e o segundo crime, de acordo com Abravanel, é: “você nos enviou". Abravanel diz que, "em vez de" a terra para que você nos enviou ", eles deveriam ter dito, 'a terra que o Eterno, nosso D´us está nos dando", enquanto Jacob Milgrom acrescenta que, "esta é uma dica da atitude dos espias, eles queriam dizer: "essa não é a terra que Adonai prometeu!" Pela escolha das palavras, antes que o relatório realmente começasse, os espias estão sutilmente lançando dúvidas se o que tinham visto é o que Adonai prometeu ao povo: Ele nos prometeu uma terra boa, mas você enviou-nos em outro lugar , esta não é a terra que queremos”.

A segunda palavra chave é, “de fato”. Espera ai! Como a expressão “de fato”, que quer dizer verdadeiramente, pode ser torcida de uma hora para outra? Quando as nossas atitudes não estão de acordo com a Palavra de D´us, mudamos até o significado das palavras e torcemos o seu entendimento para justificar a nossa desobediência.

A terceira palavra chave é, aqui traduzida como "entretanto o povo". No comentário de Jacob Milgrom, ele diz  que isso significa "de fato é verdade", MAS, uma palavra cuidadosamente diferenciada que implica fortemente para qualificar a afirmação da verdade. Muito utilizada por pessoas que tentam justificar o seu comportamento, as duas palavras "Sim, mas ...", esta expressão, realmente quer dizer: a terra não é tão boa quanto achávamos.

A a quarta palavra chave é, segundo Abravanel,  responder as perguntas de Moshe fora de ordem. Quando os espias foram enviados, Moshe ordenou-lhes:

"vejam como é a terra, e se o povo que habita nela é forte ou fraco, se são poucos ou muitos, e se a terra em que habita é boa ou ruim, e se as cidades que moram em são fortificadas,  se a terra é rica ou pobre, e se há árvores ou não. Esforçassem para trazer um pouco do fruto da terra.(13:18 -20, ESV), mas, eles falaram primeiro sobre o produto e mostraram o fruto antes de responderem  às perguntas sobre as pessoas. Mudando deliberadamente as  instruções, os espias saíram de sua competência e evocam para si o direito de tomar decisões sobre o assunto.O relatório ruim acerca da terra, foi intencionalmente feito para danificar a reputação da Terra Prometida. Mais importante, o relatório também prejudica a reputação de D´us que havia prometido a Terra ao povo, - - uma boa terra, terra que mana leite e mel – este relatório acaba tornando  inútil ou inatingível  as promessas de D'us..

A quinta palavra chave é "em vão". Combinado com a seguinte palavra - "para quê" - esta torna-se um julgamento que os espias não tinha o direito de fazer. Abravanel lista este como o crime em quarto lugar, comentando secamente: "eles não tinham direito de usar  essa palavra." O  dever deles era simplesmente ir e reunir fatos e informações, não para avaliá-lo ou determinar a ação. Moshe enviou para recolher provas da bondade da Terra para apoiar e incentivar as pessoas, para que pudessem entrar e tomar posse do que Adonai havia prometido para eles. Em vez disso, trouxeram um relatório distorcido e tendencioso que quase fez o chão tremer debaixo dos seus pés.

A sexta palavra chave é, (versículo 32): “ é terra que devora os seus moradores”. Que contradição !!! Minutos antes eles diziam que a terra era boa, agora mudaram!!! De espias eles passaram a ser juízes, eram eles quem estavam determinando o curso da história, ou pelo menos queriam determinar e por causa deste episódio, levaram 40 anos no deserto!

A sétima palavra chave é, ( versículo 33) “ éramos como gafanhotos”, os dez espias, homens de guerra, líderes escolhidos a dedo, se sentiram tão envergonhados, tão diminuídos que eles achavam, que o povo da terra os achavam tão pequenos, que se sentiram como gafanhotos!!! Que falta de perspectiva!!! Que complexo de inferioridade!!! Quantas vezes nos sentimos assim? Diminuídos! Aceitamos qualquer conversa, qualquer situação para justificar a nossa falta de fé!

O Rabino Samson Raphael Hirsch , resume  assim as palavras dos espias: “Os frutos que você vêm são muito bons ", mas tudo isso não é nada, perde todo o valor para nós, pois as pessoas são fortes demais para nós." O Rabino Sforno explica os espias estavam realmente dizendo, "é impossível  conquistar esta terra, porque as pessoas são ferozes e as cidades são fortificadas e os habitantes da terra são mais fortes que nós". Eu,Jaime digo ( baseado no que se segue no capítulo 14) que eles estavam dizendo: olhem as circunstâncias, nós estamos desamparados, os milagres que vimos e vemos todos os dias ( maná), não são suficientes para vencermos os desafios que estão diante de nós.

O salmista David retoma a história e exorta as pessoas para não se afastarem de D'us:

"Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações, como em Meribá, como no dia em Massá no deserto, quando vossos pais me provocaram, apesar de terem visto as minhas obras. Durante quarenta anos, eu sofri com essa geração e disse: 'Este é um povo de dura cerviz, e não conheceram os meus caminhos '. Por isso jurei na minha ira: Eles não entrarão no meu descanso." (Salmo 95:7-11, BJC).

Parece que a humanidade tem uma tendência de questionar o que D´us faz. Isso se manifesta  em cada geração, nos impedindo de conhecer a shalom de D´us e de entrar em Seu descanso. O escritor aos Hebreus faz um grande alerta sobre isso; atribuindo a passagem do Salmo 95  ao Ruach ha Kodesh ( Espírito Santo), ele comenta:

"Tome cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós um perverso coração, de incredulidade, que vos afaste doD'us vivo. Mas exortai-vos mutuamente cada dia, enquanto ele é chamado de 'hoje', que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado." (Hebreus 3:12-13, ESV) . Questionar D'us, segundo ele, vem de "um coração perverso" e  " enganado pelo pecado".

Não vemos essa tendência  hoje? Não falamos contra o Eterno ou seus planos? Quando consideramos o que o Eterno está nos dizendo para fazer, vamos falar a verdade ou vamos usar termos que possam condicionar o assunto e mudar o rumo das coisas? É inegávelmente verdadeiro, que algumas  coisas que o Senhor  nos manda realizar, tira-nos para fora de nossas zonas de conforto e vão de encontro  aos nossos gostos e preferências. Ai então, temos dificuldades para fazer o que deveríamos ter feito.

Hoje, muita gente boa está impregnada com filosofias deste mundo, seguindo o humanismo mais que a Bíblia, questiona tudo que a Palavra de D´us fala, começando do Gênesis indo até o Apocalipse literalmente,mas na hora do aperto, na hora que surgem os gigantes, correm para pedir oração, vão logo para os templos ou procuram os pastores. Irmãos vamos ser como Calebe e Josué, que mesmo em face a uma maioria enfurecida, confiou no Eterno D´us de Israel e assim viram o cumprimento das promessas em suas vidas. Não seja como os outros dez espias, que nem dos nomes deles nos lembramos. Tenha cuidado com a “maioria”, a história mostra que muitas vezes a maioria estava errada, e como estava!!!

 

Que o Senhor lhe abençoe, com entendimento, força e coragem nas  horas de dificuldades. Sabemos que as lutas virão, então oro para que o amor de D´us Pai e a graça salvadora deYeshua HaMashiach lhe envolva, assegurando-lhe que nunca estará sozinho, pois Ele mesmo disse:

Eis que estou convosco, todos os dias, até a consumação dos séculos. (Mateus 28:20b.BVN).

 

Versões bíblicas usadas:

BJC – Bíblia Judaica Completa.

ESV – English Standard Version.

BVN – Bíblia Vida Nova.

Salvador, 11 de Junho de 2015.

 

Rosh Jaime Araújo

 

 

Parashá 38 -  Korach - Coré 

Torá – B´midbar/Números 16:1 a 18:32.

Haftará – 1 Sh´mu´el / Samuel 11?14 a 12:22.

B´rit Hadashá (NT) – Romanos 13:1-7.

 

B’midbar / Números 16:14 - “Você não nos trouxe a todos uma terra em que sobejam leite e mel e também não nos deu a posse de campos e vinhas.” (BJC).

O Comentário do Rabino Marcelo Guimarães (B’midbar página 112) começa com um alerta tão forte, que ao ler, tive plena consciência do momento que estamos vivendo. Eu estava num ônibus indo de Ipiaú(Ba) para Salvador  e ao ler este comentário,  foi como se “tivesse caído a ficha”. Tive que parar de ler, refletir, orar e voltar a ler até o final do seu comentário.

Vejamos então o que diz o Rabino Marcelo neste comentário: “Falaremos de Coré, cuja vida índole marcou a vida de Moisés, Arão e das coisas interessantes que aconteceram com ele, Datã e Abirão. Quando uma pessoa não aceita a unção que está sobre a outra, a primeira coisa que faz é levantar-se contra ela. Moisés tinha um inimigo diante dele, Coré, e juntamente com ele, mais de 250 homens que compraram a sua ideia se levantando em rebelião contra a autoridade do líder Moisés. O ato de rebelião gerou presunção, atrevimento, falsa religiosidade, inveja contra aquele que tinha sido colocado para servir o povo de Israel, para conduzi-lo.

Com essa atitude diziam que não aceitavam a autoridade, a unção, o chamado, nada que dizia respeito à autoridade que Moisés exercia sobre eles. O mesmo espírito de rebelião que se apossou de Coré e de seus correligionários está presente também em nossos dias, espalhando a arrogância, sentimentos de inveja dos líderes. Consideremos que, ao acusarem Moisés, inflamando  a congregação contra a autoridade dele estava se levantando contra o próprio D´us...”.

As pessoas ainda estavam no deserto, eles tinham acabado de ouvir o relatório ruim dos dez espias  e  as duras consequências pela  recusa  de entrar na Terra: “toda esta geração vai morrer no deserto porque não creram e nem obedeceram a  D'us; além disso, acusam Moshe de tentar "dominar sobre nós também." (v. 13, Friedman). “Quem você acha que você é, que não pode sequer manter suas próprias promessas ?"  Queixava-se os rebeldes.

Rabino  Ovadia Sforno (1470-1550 EC), sugere que os rebeldes achavam que Moshe estava deliberadamente brincando com eles e enganando-os: "Você deve está de brincadeira com a gente para não nos ter  trazido à terra que disse nos traria e ainda fala como se estivesse nos dado como herança, ordenando-nos estes   mandamentos que estão ligados apenas a terra – “Quando fizeres a colheita da tua terra, não segarás totalmente os cantos do teu campo, nem colherás as espigas caídas da tua sega”. Semelhantemente não rabiscarás a tua vinha, nem colherás os bagos caídos da tua vinha; deixá-los-ás para o pobre e para o estrangeiro. Eu sou Adonai vosso Deus." (Vayicrá – Levítico 19:9-10, ESV)”.

O que vemos aqui, então, é que as pessoas desenvolveram uma obsessão pela terra, com tanto desejo de  possuí-la, que isso  virou a forma de decidir se as promessas de D´us  eram reais e  que elas viriam a tornar-se realidade. Embora eles não passassem de escravos sem terra no Egito, eles se agarraram a ideia de possuir seu próprio pedaço de chão (parecendo  os “sem terras” no Brasil, quando armam suas barracas em fazendas de outros) e fizeram disso a balança pela  qual eles mediam seu relacionamento com D'us. É como se em todo o caminho através do deserto até aquele momento, eles tivessem a imagem da sua própria vinha ou campo como seu alvo pessoal, parece que  a razão da saída do Egito foi para trazê-los aos seus próprios campos e vinhas. Agora que eles haviam perdido a chance de algum dia alcançar isso, por causa de sua incredulidade ao próprio D'us, eles tentam jogar a culpa sobre Moshe, alegando que ele havia quebrado  as promessas feitas  a eles e não respeitar os seus direitos. Queremos os nossos direitos!

Jonathan Allen escreveu: “O escritor aos Hebreus traça um retrato muito diferente da relação entre o Senhor, os patriarcas e a terra prometida. D´us  prometeu a Terra de Canaã a Avraham? Certamente sim: "Levanta-te, percorre o comprimento e a largura da terra, porque eu te darei tudo onde as tuas vistas alcançarem.” (B'reshit / Gênesis 13:17, JPS). O quê disse Adonai à  Yitzhak  filho de Avraham? "Para tua descendência darei esta terra." (15:18, ESV). E o quê dizer de Yaakov?  "A terra que dei a Abraão e a Isaac,  te darei e darei a terra à tua descendência depois de ti." (35:12, ESV).

A promessa de D'us é então repetida por Moisés, quase quarenta anos depois da rebelião, às pessoas que estavam realmente prestes a entrar na Terra: "Vai, toma posse da terra que o Eterno jurou a teus pais, Avraham, Yitzhak e Yaakov, para possuí-la a eles e aos seus herdeiros depois deles.” (D'varim/Deut. 1:8, JPS). Esta foi uma promessa freqüentemente repetida e conhecida pelos patriarcas que foram contemplados por sua fé em crer na promessa, mesmo contra todas as probabilidades aparentes: "Pela fé Abraão obedeceu quando ele foi chamado para ir a um lugar que era para receber como herança. E ele saiu, não sabendo para onde ia. Pela fé ele foi morar na terra da promessa, como em uma terra estrangeira, vivendo em tendas com Isaac e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa.” (Hebreus 11:8-9, ESV)”.

Nenhum deles recebeu a herança de fato, a propriedade e posse do que lhes havia sido dito: "Todos estes morreram na fé, sem terem recebido as coisas prometidas, mas tê-los visto e saudado, de longe, e tendo reconhecido que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra.” (v. 13, ESV)”.

Porém ficaram firmes, crendo Naquele que tinha feito estas promessas. Como eles conseguiram equilibrar isso? O quê os impediu de ficar presos a terra? Por que eles não se queixam da falta de campos e vinhas, da falta  de segurança e a posse da terra? O escritor aos hebreus explica: "Porque ele [isto é, Avraham] aguardava a cidade que tem fundamentos, cujo arquiteto e construtor é D´us." (v. 10, ESV).

Os patriarcas sabiam que foram chamados para algo maior e muito além de terras e vinhas, que haviam sido chamados pelo próprio D'us, para participar do Seu reino, com base em promessas feitas por D'us e eles podiam confiar na Sua fidelidade. Eles confiavam no Eterno D´us, que diariamente lhes supria casa, comida, paz em tempo de insegurança e uma posteridade, ainda que suas esposas fossem estéreis (Sara, Rebeca e Raquel).”

Portanto, a pergunta para nós hoje é: temos uma fixação por “terra”, por coisas, por bens materiais que pensamos ser nosso direito? Será que temos transformado a Palavra D'us "Eu sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor...planos de fazê-los prosperar e não de mal, planos de dar-lhes esperança e um futuro." (Jeremias 29:11, NVI) em promessas de uma casa confortável, de prosperidade material e financeira, de boa saúde e da família, dos bens efémeros para satisfazer - se não todos - os nossos caprichos?

Hoje a maioria dos crentes está mais preocupada em ter do que em ser!!

Tem gente que fica desapontado e até duvida da existência de D'us, quando Ele não responde às suas demandas - afinal, Ele prometeu, é nosso direito!

A sociedade hoje se tornou insistente sobre os seus direitos: o direito de ter e gastar dinheiro, mesmo à custa dos outros ou por meios de suborno e propinas, o direito de praticar o aborto e matar crianças não nascidas, o direito de adorar a todos que lhes agradam, mesmo sendo seres mortais, o direito de desperdiçar recursos naturais, como e quando quisermos, o direito de abusar de nossos próprios corpos com drogas, álcool, sexo e fumo ou comidas prejudiciais à saúde, ou ainda o direito de estar certo sobre tudo, sem censura ou crítica...

Temos que aprender que com os direitos (ou privilégios) vêm às responsabilidades. Com a liberdade vem à responsabilidade pela forma como nós usamos essa liberdade. Como Yeshua disse: "De quem muito foi dado, muito será exigido" (Lucas 12:48, BJC).

Aqueles que se rebelaram no deserto descobriram rapidamente que, "a terra que estava debaixo deles se abriu, e a terra abriu a boca e os tragou, e suas famílias, e todos os homens que pertenciam a Korach, com seus bens." (B’midbar/Números 16:31-32. BJC); era D'us executado julgamento sumário contra eles, sem direito a recurso.

Nós os crentes de hoje, devemos ter cuidado para não nos encontrar  insistindo em "nossos direitos" e desafiar a D'us, de forma que  também estejamos sujeitos a seus julgamentos. Criamos uma teologia da prosperidade que mascara uma outra realidade. O que o homem plantar isso também colherá!!

Muitos crentes ignoram completamente a Palavra de D´us no que se refere à rebelião e às suas consequências. Em I Samuel 15:23, vemos uma das declarações mais fortes em toda a Bíblia sobre este pecado: “Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria e a obstinação é como a idolatria.” (BJC). 

Parece que D´us mudou, parece que Ele fecha os seus olhos para os nossos pecados e “passa a mãos nas nossas cabeças” mesmo quando vivemos fora de Sua vontade. Precisamos mudar as nossas atitudes em relação à Yeshua e Seu reino, precisamos nos concentrar Nele: ouvir e obedecer as Suas palavras. É certo que Ele promete suprir as nossas necessidades básicas, isso é uma promessa segura, quando Ele disse: "Buscai primeiro o Seu Reino e Sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas." (Mateus 6:33, BJC).

Porém, tenha isso em mente: buscar em primeiro lugar o Reino de D´us e não o nosso reininho particular. Nossa principal preocupação é serví-LO, quando o fazemos, Ele toma sobre si a responsabilidade de suprir as nossas necessidades, especialmente a vida eterna!!!

Que Ele lhe abençoe, dando-lhe a graça para aguentar firme nas promessas, até que elas venham se tornar realidade!!!

 

Versões Bíblicas usadas:

BJC – Bíblia Judaica Completa.

ESV – English Standard Version.

JPS – Jewish Publication Society.

NVI – Nova Versão Internacional.

 

Salvdor,19 de Junho de 2015.

 

Rosh Jaime Araujo.

 

 

Parashá 40 - Balak – Balaque (Destruidor).

Torá – B’midbar/ Números 22:01 - 25:9.

Haftará – Mikhah/Miquéias 5:6 – 6:8.

B´rit Hadashá – 1 Corintios 1:20-31.

 

                             Bil’am (Balaão) e a sua jumenta!

 

Embora a história de Bil'am/Balaão começa no início da Parashá, quando o rei Balak de Mo´av então assustado com os filhos de Israel, por terem acampado em suas fronteiras e convoca Bil’am/Balaão para vir e amaldiçoá-los, este versículo começa a narrativa familiar em que Bil’am/Balaão tem uma conversa com a sua fiel jumenta, depois de ter batido nela três vezes. Este episódio, muitas vezes levanta a questão: Por que o Senhor teria se irritado com Balaão por este ter ido com os príncipes de Balak quando o Eterno mesmo havia dito que ele poderia ir?.

B'midbar / Números 22:21: “Balaão se levantou pela manhã, e albardou a sua jumenta e partiu com os príncipes de Moab.” (JPS).

Maristela Araújo escreveu o seguinte em seu comentário sobre esta Parashá: "A história de Balak, Bil'am e Israel é uma história um pouco difícil de entendermos mas que para nós, vivendo no Brasil e especificamente na Bahia onde os poderes espirituais são parte do dia a dia das pessoas, tem uma relevância maior. Esta  é uma história que relata o confronto do Eterno com os poderes espirituais que Balak, o rei de Moabe, tem à sua disposição.  Há poucas semanas atrás, minha irmã que não é Cristã e está preocupada com a filha jovem que está buscando esses poderes através do Espiritismo e da Umbanda, contou-nos o por quê ela, ainda jovem, decidiu que não se deixaria seduzir mais por esses poderes.

Um dia, disse minha cunhada, estávamos eu, nossa tia mais nova por parte da nossa mãe, e primas invocando o espírito de um famoso espiritualista morto, usando a mesa de ouija. À medida em que colocávamos nossas perguntas ao espírito o copo se movia na mesa soletrando as respostas. Por um tempo tudo funcionou bem e estávamos empolgadas e satisfeitas com o que acontecia ali. Mas de repente o copo começou a se mover rapidamente na mesa soletrando, “tenho de ir embora, tenho de ir embora. Ela chegou”. Depois de alguns instantes perguntamos, quem esta chegando? E o copo soletrava,” ela chegou, ela chegou. Não posso ficar aqui. Tenho de ir embora”. Na sequência o copo, que estava andando rapidamente, se espatifou no chão ao mesmo tempo que a nossa irmã que seguia a Yeshua empurrava a porta pra entrar na saleta, perguntando, “o que é que vocês estão fazendo brincando com demonios?”

Outra ocasião estávamos realizando uma sessão espírita em nossa casa quando a entidade que havia se manifestado nos disse que precisava ir embora pois "ela" estava chegando em casa. Pedimos prá entidade ficar pois minha irmã era franzina e nada podia fazer contra a entidade mas ele nos disse que não podia ficar onde nossa irmã seguidora de Yeshua estava, e foi-se segundos antes de nossa irmã entrar na sala.Nossa irmã mais nova e uma de nossas primas que continuaram a ir a sessões espíritas às escondidas, não podiam chegar perto da nossa irmã. Ao fazerem-no, desmaiavam. Por essa razão, ao ver que as entidades e espíritos tinham medo da nossa irmã ou com quem ela andava que é Yeshua, e por outras manifestações parecidas que testemunhei, tive  medo e deixei de me envolver com esse tipo de coisa.

Pessoas são seduzidas por esses poderes. Minha avó paterna à moda dos Sefaraditas que foram influenciados pelas superstições árabes na sua convivência, costumava nos benzer falando em uma língua que não entendíamos, mas víamos a eficácia de seus encantamentos quando tínhamos algum tipo de dor que magicamente desaparecia ao som de suas palavras. Esses são testemunhos quase insignificantes  mas que atestam de um poder operando independentemente do poder de Adonai. A situação de domínio espiritual no tempo em que a história de Balaão acontece é conturbada pois a Mesopotâmia além de idólatra, segurava seu domínio através do relacionamento que mantinha com poderes espirituais que seduziam reis e súditos. É interessante que Adonai não nega a existência de outros deuses ou de seus poderes espirituais na Torá. Esses poderes são mostrados na Torá como insignificantes ante o poder de Adonai, mas com força suficiente para seduzir povos e mantê-los escravos no espírito." 

Dr.Jonathan Allen começa assim o seu comentário sobre esta Parashá: “Como nosso versículo relaciona, Balaão levantou-se cedo, albardou a sua jumenta e partiu com os príncipes de Moab para responder a convocação de Balaque”. Ele estava obviamente com pressa! Os Sábios do Talmud discutiram se era bastante adequado para Balaão para selar o seu próprio animal, em vez de mandar um dos seus servos fazer isso por ele.

“Pelo contrário, a história do início da discussão mostra uma certa ligação de Balaão com a história de Avraham, quando ele tinha sido instruído para sacrificar seu filho Yitz’khak no Monte Moriá: pois está escrito: “E Avraham se levantou de madrugada, e albardou o seu jumento.” (B'reshit 22:03) O episódio também desrespeita a regra de conduta digna: [esta é deduzida] de Balaão, pois está escrito: "E Balaão levantou-se pela manhã, e albardou a sua jumenta." (B'midbar 22:21) n. Sanhedrin 105b”.

No versículo anterior, o Senhor falou a Bil’am, dizendo-lhe: "Se estes homens passarem a convidá-lo, você pode ir com eles" (B'midbar 22:20, JPS). Bil’am tinha autorização para ir com os mensageiros de Balak, então por que o anjo tem que aparecer e permitir que a jumentinha apanhasse? O versículo seguinte nos diz que o Senhor estava irado: "Mas D´us estava irritado com sua ida, por isso, um anjo do Senhor se colocou em seu caminho como um adversário." (v. 22, JPS).

O Rabino Ovadia Sforno (1470-1550 EC) leva um passo mais adiante e explica: "Bil’am não foi porque os outros estavam levando-o, como em 'E levantou-se e seguiu-a" (2 Reis 4:30), mas sim que ele foi como uma pessoa interessada e como alguém que foi na tentativa de desafiar a vontade de D'us, o Abençoado ".

O Rabino Samson Raphael Hirsch (1808-1888 EC) percebe que Bil’am diz, ou - mais importante - não diz, aos príncipes moabitas. "Balaão levantou-se pela manhã e foi - mantendo o silêncio -. Com os príncipes de Moab, sem lhes dar qualquer explicação em tudo, mais, implicitamente concordando com a sua missão, ele foi com eles." Essencialmente, Hirsch está sugerindo, que Bil’am foi sob falsos pretextos, pois ele não faz qualquer esforço para explicar-lhes as condições que o Senhor tinha colocado sobre ele: "Só a palavra que eu vou dizer a você, você deve fazer." (v. 20).

O entusiasmo com que Bil’am demonstrou ao responder ao chamado de Balak, resultando não apenas nos três oráculos poderosos que D'us lhe deu, como também o conselho não oficial de Bil’am a Balak para que as mulheres de Moab "induzisse os israelitas a pecar contra o Senhor no assunto de Peor, de modo que a comunidade de Israel foi atingida pela peste.” (31:16, JPS) é assustador.

Bil’am permaneceu uma figura arquetípica do mal nos dias da Nova Aliança. Pedro fala sobre aqueles que seguem o exemplo de Bil’am, deixando o caminho direito, eles se desviaram. “Eles têm seguido o caminho de Balaão, filho de Beor, que amou o ganho de delito." (2 Pedro 2:15, ESV) ou, pior, se escondem na igreja, encurralando os crentes no comportamento errado "Mas eu tenho algumas coisas contra você: você tem alguns aí que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel, para que eles comessem comida sacrificada aos ídolos e praticar imoralidade sexual." (Apocalipse 2:14, ESV).

Devemos ter cuidado com aqueles que podem nos levar a desviar do Caminho do Eterno ou aqueles por quem somos responsáveis e venham a desviar-se dos caminhos do Senhor. Mas como podemos reconhecê-los? Yeshua disse: "Porque não há árvore boa que produza frutos maus, nem ainda uma árvore má que dê bons frutos, porque a árvore é conhecida pelo fruto que produz." (Lucas 6:43, ESV).

Nestes dias quando a Nação Brasileira tem sido abalada por escândalos financeiros, quando os políticos fazem manobras para encobrir seus atos espúrios vemos como é fácil levar as pessoas a fazer o que eles não querem exatamente. Veja que, com palavras de ordem e persuasão, muita gente pode perder o controle e partir para depredações, quebra-quebra e vandalismo. Não é isso que precisamos e nem isso vai trazer mudanças.

Todos temos que concordar que a Nação brasileira necessita fazer ajustes e mudanças radicais. Uma das maiores pragas desta nação é a injustiça social. Como Igreja do Messias Yeshua, não podemos ficar calados, vendo as coisas desmoronarem ao nosso redor e não fazer nada.

Temos que orar, orar e agir. Somos ou não o sal da terra? A influência de Bil’am/Balaão está por toda parte (suborno, idolatria de todo tipo, imoralidade, violência, etc.), não podemos simplesmente ficar parados assistindo. Somos ou não somos testemunhas de Yeshua? Ser testemunhas da Verdade é falar e agir de acordo com os princípios da Palavra de D´us.

Que o Eterno D´us Pai de nosso Senhor Yeshua HaMashiach  nos ajude a andar na luz de sua verdade e não precisar se achados lutando como Balaão, contra a vontade do próprio Senhor.

 

Versões Bíblicas usadas:

JPS - Jewish Publication Society.

ESV – English Standard Version.

 

Salvador,02 de Julho ( Independência da Bahia).

 

Rosh Jaime Araujo.

 

 

Parashá 41 - Pinchas – Finéias.

Torá - Números 25:10 – 29:40.

Haftará - 1 Reis  18:46 -19-21.

B'rit Hadashá - Yohanan/João 2:13-22.

 

Pastora Maristela Araújo.   

                                                 

O nosso conceito de quem o Ser Divino é tem mais a dizer sobre nós mesmos do que sobre quem o Eterno realmente é. Nós discernimos o mundo em que vivemos através das nossas experiências e conceitos formados a partir do contato com o mundo exterior, o mundo que existe fora de nós mesmos.

Gaúcha que sou, como posso descrever para um baiano a experiência de tomar chimarrão? Começando pela descrição do que é uma cuia de chimarrão, eu a descrevo como um copo tirado de uma árvore, cuja parte superior foi cortada e por onde a erva será inserida. Mas aí me deparo com a dificuldade de explicar um copo tirado de uma árvore. Posso descrever como um côco seco do tamanho de um copo que foi lixado por dentro e fora, colocado prata em redor da parte superior cortada...e nem cheguei  à parte da bomba de chimarrão ainda ou ao ato de tomar chimarrão, que é uma experiência que só tem sentido quando vivida em comunidade ou como reflexão, um ato totalmente solitário. E o ato de tomar chimarrão é apenas uma experiência do vasto sentido de ser gaúcho.

Eu nunca tomei um mate sequer em Salvador mas desde que vim pra cá em 2011 a cuia e a erva me acompanham. Em Richmond de vez em quando eu olho pra cuia em cima do balcão da pia. E sempre há erva no armário. E como se um baiano carregasse com ele um côco pra onde fosse. Você vai pra praia, e leva um coco. Vai prá igreja, e carrega um côco. Vai pra balada, e  carrega um côco na bolsa do côco.

Você vai pra Europa e o côco junto. Gaúcho que é gaúcho não se separa do chimarrão. Mas o chimarrão não diz nada sobre o Brazil. O ato de tomar chimarrão tem a ver com quem eu sou e como interpreto o mundo em que vivo. Tem a ver sobre como as pessoas veêm o Brasil. Se elas virem um gaúcho gastar meia hora antes do café, meia hora na hora do almoço, e meia hora antes do jantar tomando chimarrão sozinho pode concluir que os gaúchos, e consequentemente os brasileiros são individualistas e preguiçosos que preferem a sua própria companhia à vivência com outros e gastam muito tempo no lazer em vez de trabalharem. Conclusão – o Brazil é um país de preguiçosos e individualistas.

Levando isso para o mundo espiritual o Ser Divino também recebe atribuições que não lhe pertencem, mas que são imagens refletidas na Sua Pessoa vindas diretamente daqueles que julgam lhe conhecer. Dessa forma o Eterno muitas vezes é acusado de ser quem não é. Preguiçoso e individualista talvez alguns acham sim, talvez não. Mas vingativo, intolerante, manipulador, ditador, controlador, inconsistente, e muitos outras coisas...muitos acham isso sim.

No atual momento da história brasileira que estamos vivendo temos de redobrar o cuidado pra não atribuirmos ao Eterno atribuições de caráter que de fato são apenas reflexões da sociedade brasileira, imagen do nosso próprio caráter.  Devemos ter em mente que o texto sagrado reflete a cultura, sensações, e experiências pessoais e comunitárias com o Divino dos autores do texto. A interpretação da Torá sem o filtro do Ruach HaKodesh(Espírito Santo) pode denegrir ou entortar o Caráter Divino, numa tentativa de moldá-lo à nossa própria imagem. Isso é o pior ato de idolatria que podemos cometer contra o Eterno.

A história de Pinchas, como qualquer outra narrativa bíblica, é sujeita à uma interpretação com os óculos arranhados pelas nossas próprias experiências e sensações vividas. Este é um texto que, de acordo com os estudiosos da Bíblia, foi acrescentado posteriormente pela fonte de documentos sacerdotal a fim de dar mais credibilidade ao sacerdócio Aharonico. A Torá, de acordo com as Teorias Modernas das Fontes de redação da Torá, teorias essas que surgiram com o advento do Racionalismo, é uma coleção de documentos provenientes de quatro distintas fontes, e não escrita por Moshe como se acreditou por muito tempo. A razão para isso se deve à contradições em textos legais e narrativas , diferenças em estilo literário e conceitos teológicos.

Acredita-se que um redator uniu as diferentes fontes até chegarmos à Torá de Moshe. A fonte sacerdotal P (P de priest ou sacerdote em Inglês) e a fonte E ( E de Elohim, deuses ou D ´us) são vistas como a coleção mais antiga de escritos da Torá. Como a partir de Êxodus se torna difícil separar as duas fontes, elas são encontradas lado a lado na narrativa de Pinchas.  A teologia dessa narrativa é, portanto, uma teologia sacerdotal. A narrativa tambem engloba a fonte J (J da tradução para o Alemão do tetagrama YHWH),  muitas vezes traduzido comoSenhor, mas que é realmente um nome de significado exato desconhecido.  A fonte P também usa Elohim. Nesse texto, portanto, temos as fontes P, J, e E. Mas não a fonte D, encontrada principalmente no livro de Deuteronômio. No texto que estamos vendo hoje, Números 25 de 6 a 13, o Eterno é chamado pelo tetagrama ou seja, Senhor, no verso 10, e como Elohim ou D´us no verso 13.

A fonte J é também reconhecida pela representação antropomorfomica do Eterno, que interage face a face com mortais, mostrando características humanas como alegria, ira, etc. 

Nessa narrativa, o Eterno fala com Moshe duas vezes, e relaciona-se com Pinchas ao reconhecer seu zêlo. A fonte E apresenta o Eterno como um Ser mais distante das pessoas, que comunica com o povo através de sonhos, visões, ou através de profetas. Não vemos então o Eterno falando diretamente ao povo, mas sim pelo intermédio de Seu profeta, Moshe. A fonte sacerdotal é caracterizada por um forte interesse na ordem e limites, na família Aharonica e na instituição do sistema religioso do Templo. Como a fonte D não está presente nessa narrativa, a interação do Eterno com Moshe pode ser deduzida como uma interação que aconteceu face a face, ou seja, o Eterno está presente no meio do povo, sendo visto por Moshe. Para complicar um pouco mais a interpretação desse texto as fontes J, E, e Ppossuem também coleções legais associadas com elas, ou seja, documentos da lei. Junte-se à elas a teologia sacerdotal encontrada na fonte P desse texto e teremos que ter muito cuidado na interpretação.

 A fonte P remete ao Código de Santidade que Israel deveria aspirar como um povo escolhido para ser santo. A fonte P também explica a nomeação de Pinchas e seus descendantes como sacerdotes para sempre como resultado de sua ação para liderar o povo a viver em santidade ou separados de todos os outros povos . 

O julgamento sumário do casal misto, membros importantes das suas respectivas comunidades, acontece provavelmente numa tenda. A palavra hebraica hakubah pode se referir em hebraico e também em Árabe à uma tenda que fazia parte de uma área de culto pagão, mas sem evidência de prostituição cultual. Nesse texto o Eterno comunica-se com Pinchas através somente de Moshe, portanto a ação de Pinchas é movida pela sua própria interpretação do acontecido em Israel, e pela ordem que Moshe recebeu de Adonai para matar todos aqueles que haviam se ligado ao deus Baal-peor, o deus mais importante da religião Cananita. O mesmo deus representado na imagem do bezerro de ouro durante a jornada de Israel pelo deserto. A ordem do Eterno é para matar todos os líderes de Israel, entendendo-se que pela sua posição de autoridade até mesmo o indivíduo inocente de seguir a Baal seja tido como culpado por não impedir que o povo se corrompa com outros deuses. Mas mais adiante no verso 5 vemos Moshe intercedendo para que somente o culpado individualmente de idolatria seja morto.

Como podemos então interpretar esse texto até aqui?

Os dois nomes do Eterno que aparecem nesse texto nos dá uma idéia da luta que os autores bíblicos tiveram para comunicarem o conceito e a natureza do novo D’us dos Hebreus, usando uma linguagem que remetia às idéias que tinham dos deuses da Terra de Canaã. Eles tiveram que explicar o conceito e o ato de tomar chimarrão para uma turma familarizada com água de côco. Por exemplo, o deus Cananita dessa narrativa, Baal, é descrito em textos dos mitos Ugariticos (local chamado hoje Ras Shamra, no norte da Síria) da mesma maneira como Juízes 5 apresenta Adonai. Há claramente um empréstimo da linguagem descritiva dos outros deuses da região para identificar o D’us de Israel. Através dessa apresentação única do D’us de Israel que absorve diferentes características de vários outros deuses locais, eles elevam esse D’us acima de localidade, tempo, e influência cultural. Ao invés de uma divindade localizada dentro de uma estratégica teia de poder que uma particular cultura cria e usa, o texto bíblico apresenta um caráter que frequentemente transcede o mundano e o comum.

Uma nova forma de relacionamento e poder emerge. Não somente o D’us de Israel ocupa localidades dentro do material bíblico de onde grande poder é expressado como também esseD’us engole outros deuses a fim de tomar o próprio lugar no meio do povo. O que está acontecendo no texto que lemos não é uma luta entre o D’us de Israel contra Baal poisAdonai possui todas as características de poder e autoridade que todos e quaisquer outros deuses locais possuem. A luta aqui é para que o povo Hebreu forme seu entendimento do seuD’us. Se você perguntar a dez baianos fora do seu círculo quem é D’us você vai receber diferentes respostas pois a maioria das pessoas não têm o mesmo conceito sobre D’us.

No Tanak(VT) nomes são importantes pois eles revelam detalhes sobre a origem e o caráter das pessoas. O mesmo acontece com os nomes dos deuses. E do D’us de Israel.

Elohim: El era o deus-chefe na Terra de Canaã , criador da terra e de outros deuses. El era o pai de Baal, o deus da tempestade, que envia chuva e providencia fertilidade. Conhecido também como deus do mar, Baal é associado também com a deusa que venceu a morte, Anat. Baal significa senhor ou mestre, e acreditava-se que controlava as mais assustadoras forças da natureza. O povo dependia de chuvas para suas plantações no deserto, deixando-os à mercê de um deus que gostava de controlar tudo e todos através de sua demonstração de poder. El também controlava a Síria e o Egito. O povo de Israel havia sido libertado da escravidão no Egito para somente cair nas malhas de uma crença em um deus que os escravizaria talvez muito mais. Israel esqueceu ou não entendeu que o D’us de Israel é oD’us acima de todos os outros deuses, o D’us criador de tudo e todos, que gerencia todos os elementos da natureza, sem a necessidade de ajuda de Baal.

Nessa mistura de divindades, o texto bíblico apresenta um novo nome para o Eterno, o tetagrama YHWH. Eu sou o que sou – mas o significado é muito mais complexo do que isso. A tradição judaica explica esse significado através da linguística e da etmologia. A raíz heyh significa ser, e funciona em dois tempos. O primeiro é o perfeito, expressando uma ação completa, frequentemente no passado. O segundo é o imperfeito, expresssando uma ação incompleta do passado, presente, ou futuro. Isaías 45: 6 diz : “Eu sou Adonai e não há outro.”  E Adonai é o D-us de Israel. Essa exclusividade divina significa que o povo de Israel é colocado num relacionamento exclusivo com o único D’us que realmente importa, conectados à uma força que os coloca acima dos impérios e seus deuses. É isso que está em jogo na narrativa. Um povo liberto do Egito mas prestes a cair nas malhas de escravidão a deuses e impérios prontos a lhe escravizarem novamente através de idolatria. Exceto Moshe, Pinchas parece ser o único homem de influência em Israel que entende o que está acontecendo. Os homens hebreus estão sendo dizimados por uma praga de origem sexual. No Egito, como escravos, não se misturaram com os locais. Mas agora estão morrendo como moscas ao terem relações sexuais com as mulheres da terra. 

Muitos índios foram dizimados por doenças do homem branco. Os Europeus presenteavam os índios Americanos com roupas contaminadas com a varíola. Quem se lembra do terror da AIDS não se espanta ao ler esse texto. Um D’us que requer um código nas relações entre homens e mulheres é uma novidade para o povo de Israel. Um D’us que exige exclusividade é difícil de engolir para um povo que finalmente experimenta a liberdade. Sexo e religião é uma combinação explosiva, que libera endorfinas capazes de cegar e escravizar muitos que se consideram fortes e imunes ao engano.

Após a morte do casal, dos 24 mil homens e dos culpados de traição ao monarca de Israel,Adonai, a praga misteriosamente desaparece. Não há menção se as mulheres que tiveram relações sexuais com os homens hebreus também foram dizimadas pela praga mas sem dúvida foi um dia de lamentação em Israel. Mas Israel mais uma vez estava livre da ameaça de escravidão. Adonai, representado pelo tetagrama YHWH, permite que uma praga aniquile multidões como acontecera no Egito, mas dessa vez as pessoas atingidas são os Hebreus. Em outras palavras, Ele permite que esses homens sofram as consequências de suas escolhas. E Balaão que foi o instigador para que os homens hebreus traíssem a Adonai encontra a sua morte mais tarde no capítulo 31, fechando assim o círculo do desastre em Shittim.

A maneira como interpretamos os textos da Torá é definido pela nossa própria teologia. Se você crê que a AIDS é uma praga que acomete àqueles que quebram as leis da Torá, então você verá a praga dessa narrativa como uma direta reação do Eterno ao pecado dos hebreus. Precisamos estar abertos à novas interpretações fora do contexto de nossas experiências e sensações para aprendermos além do nosso próprio contexto. Que tal ver a praga como uma consequência natural de duas culturas opostas que se unem abrindo a porta para uma reação da natureza numa área até então adormecida? Que tal vermos o zêlo de Pinchas como uma interpretação pessoal do desejo do Eterno, e não como obediência à uma ordem direta deAdonai? Ao recompensar o zêlo de Pinchas Adonai não se ressente de que Pinchas tenha ido além do que Ele havia ordenado a Moshe, pelo contrário, Ele honra tal zêlo. Quem não admira um chefe que reconhece o esforço do empregado? Quem não admiraria um chefe de Estado que ao ver o povo reagir à injustiça fazendo justiça com as próprias mãos determina que a justiça seja satisfeita para que a paz e a ordem sejam restabelecidas e inocentes não sofram?

A mudança que Moshe fez (vs5) da ordem de Adonai para matar todos os líderes do povo de Israel para a matança somente dos homens que se prostituíram com as Moabitas mostra umD’us que se relaciona com Moshe de amigo para amigo, disposto a aceitar sua sugestão de quem é responsável pela traição e quem deve pagar pelo crime, e estendendo misericórdia a líderes que poderiam ser justamente condenados pela sua inabilidade para liderarem.

O texto que lemos hoje é um texto difícil que nos desafia a ir além das nossas própria experiências, sensações, e contexto cultural. Grande parte das palestras religiosas tentam provar um ponto, transmitir uma idéia ou conceito teológico, ou mostrar erudicência do palestrante. Mas a interpretação bíblica caminha com as pernas do próprio texto impulsionada pelo Ruach HaKodesh (Espírito Santo), e não com as do palestrante. Quando procuramos a interpretação da Torá descobrimos que o texto é vivo. Você luta com o texto, tenta moldá-lo aos seus conceitos somente para descobrir que você tem que deixá-lo se revelar como é, que você é quem será ensinado e surpreendido.  Que você não tem como colocar ordem no caos. Porque, se você pensar que pode fazer isso, você estará cometendo outro ato de idolatria, o ato de pensar que você está em pé de igualdade com o Eterno, que criou tudo a partir do caos que reinava no universo. Vemos a calamidade causada por uma tsuname e perguntamos uns aos outros como foi que D’us permitiu tal coisa...mas se víssemos o Eterno se envolvendo em nossa vida diária também nos revoltaríamos com um D’us que nos tolhe a oportunidade de sermos humanos. 24 mil homens mortos numa praga...e queremos culpar alguém, numa tentativa de pormos ordem no caos da natureza e da existência humana.

A narrativa emerge como um testemuho da resistência humana de se reconciliar com seu próprio destino, com sua chance de viver em paz consigo mesmos através do relacionamento com Adonai. Adonai emerge do texto como um D’us único, diferente de todos os outros deuses e ao mesmo tempo englobando muitas das características dos deuses de Canaã, Síria e Egito, capaz de suprir as necessidades e realizar os anseios do povo de Israel. Mas diferentemente dos outros deuses, Adonai exige exclusividade, lealdade, e relacionamento. Um fato que para um povo ainda lutando com a mentalidade de escravos acende sentimentos de medo de perderem o controle de suas próprias vidas. Somente um acontecimento maior do que eles mesmos como uma praga da natureza seria capaz de lhes darem a perspectiva certa do que realmente é importante na vida. Israel saiu do caos da praga como um povo mais perto de sua liberdade e com um maior entendimento do caráter do Eterno.

A questão é – depois dessa leitura, como entendemos o caráter do Eterno? Ou ainda estamos lendo o texto através de nossas experiências e sensações sem abrirmos novas portas de entendimento? Qual a relevância do texto no momento do país? O quê o texto está te comunicando hoje, nessa hora e nesse lugar?

 

Salvador, 10 de Julho 2015.

Pra.Maristela Araújo

Richmond Baptist Theological Seminar.

 

 

Parashá 42 -  Matôt – Tribos

Parashá 43 - Massei - Partidas.

Torá B´midbar/Números 30:1-33:36.

Haftará – Jeremias 1:1 a 2:3.

B´rit Hadashá – Filemom 3 a 21.

 

Estas Parashiot, me fazem lembrar uma antiga mensagem que Jim Stier, fundador da Jocum no Brasil pregava nos anos 70 e 80....Tempo de falar e tempo de ficar calado...O cohen  ( sacerdote) Eleazar, falou certo e na hora certa !!!!!

O exército de Israel tinha acabado de vencer uma batalha contra  os midianitas. Eles reuniram todos os despojos e os trouxe para o acampamento nas planícies de Moab. Moshe está irritado com os comandantes do exército, porque eles não cumpriram integralmente as instruções de D'us. Neste ponto, depois de Moshe ter dito aos comandantes como eles deveriam agir para corrigir a situação, Eleazar toma a palavra e explica aos homens do exército que tudo o despojo deveria ser purificado pelo fogo ou pela água antes deles entrarem no acampamento, e que as suas roupas deveriam serem lavadas antes de entrar no acampamento, mesmo depois de esperar os sete dias que Moshe tenha especificado (v. 19).

Por que Eleazar - o filho do irmão de Moshé, Aharon, o primeiro sumo sacerdote de Israel - falou neste momento? Por que Moshe não  ensinou e esclareceu  essas regras específicas, para a purificação do despojo e os homens do exército? Será este um velho problema de Moshe, ou é Elazar está a um passo à frente para esclarecer os pequenos detalhes de uma política já delineada? 

Rashi, Rabino Shlomo Yitschaki (1040-1105 EC),explica que Eleazar tinha que falar porque Moshe estava com raiva. Citando dois exemplos anteriores quando Moshe estava indignado - "E [Moshe] estava irritado com Eleazar e Itamar, os filhos de Aharon, que sobreviveram." (Vayicrá 10:16,BVN), pois eles e seu pai não tinham comido a oferta pelo pecado no santuário, e "Então Moisés e Arão reuniu a assembléia diante da rocha, e ele disse-lhes: Ouvi agora, rebeldes!: vamos fazer com que água possa sair dessa pedra?" (B'Midbar 20:10, ESV), quando Moshe bateu na rocha em vez de falar com ela - Rashi cita o comentário Sifre  que diz: "Moshe errou por causa da raiva." (Sifre B'Midbar 157).

Jonathan Allen, comenta que: “A frase - o estatuto da Torá - só aparece duas vezes nas Escrituras Hebraicas, aqui e no capítulo 19:2 de B'Mibdar(Números) , onde o conjunto de seis palavras "Este é o estatuto da Torá que Adonai tem ordenado” é repetido no início do ritual enigmático da Novilha Vermelha. Nesta passagem, o Senhor está falando a Moshe e Aharon e passa a incluir as normas para a pureza e impureza ritual após o contato com cadáveres. As palavras de  Eleazar demonstram  a preocupação na purificação de pessoas e coisas após a batalha, quando essencialmente o contato com cadáver é novamente a questão, de modo que seu discurso nesta ocasião poderia ser interpretado como simplesmente uma aplicação ou exposição detalhada das regras anteriores, em vez de novos regulamentos dados diretamente através de Eleazar, tendo este efetivamente passado por cima Moshe.”

O Pentateuco Samaritano ainda acrescenta algumas palavras neste momento para evitar qualquer ligeira interpretação de rebeldia por parte de Eleazar contra Moshe.

Eleazar estava, na verdade, simplesmente cumprindo um papel importante que o Senhor designou para os cohanin (sacerdotes): o de observar e ensinar as regras de pureza ritual.

Imediatamente após dois de seus filhos, Nadav e Avihu, morreram ao trazer "fogo estranho" diante do Eterno, Aharon é instruído "Você deve distinguir entre o santo e o profano, e entre o imundo e o limpo, e você deve ensinar ao povo de Israel todos os estatutos que Adonai lhes tem falado  através de Moshe."(Vayicrá 10:10-11, JPS). Esta função é confirmada pelo profeta Ezequiel: "Eles devem ensinar o meu povo a diferença entre o santo e o profano, e mostrar-lhes como distinguir entre o imundo eo limpo." (Ezequiel 44:23, ESV).

Este papel dos cohanin aparece nas regras para lidar com as pessoas atingidas com tzara'at ( lepra), onde apenas o cohen tem autoridade para pronunciar limpo ou impuro. Moshe também coloca os cohanin na posição de árbitros para toda a nação em casos difíceis que não podem ser resolvidos pelos magistrados locais: "você deve subir ao lugar que o Senhor teu D´us terá escolhido, e comparecer perante os cohanin, ou o magistrado responsável, no momento, e apresentar o seu problema. Quando eles anunciaram-lhe o veredicto no caso, você deve realizar o veredicto que se anuncia para você a partir desse lugar que Adonai escolheu , observando escrupulosamente todas as suas instruções. "(D'varim 17:8-10, JPS).

Dentro do Corpo do Mashiach (Messias) há uma necessidade de papéis similares. Para habilitar o corpo a funcionar, Yeshua "deu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros como pastores e mestres." (Efésios 4:11, NVI) para crescer e ser conforme à imagem de Yeshua (vv. 14, 15). Da mesma forma, Rav Sha'ul (Apóstolo Paulo) instou a comunidade de Corinto para assumir a responsabilidade por seus próprios assuntos jurídicos entre si e não levar à público as disputas domésticas, parece até que o Rav conhecia um ditado brasileiro: “roupa suja se lava em casa” quando ele escreveu estas coisas aos crentes (corinthianos? rsrsrs) "Será que qualquer um de vocês, quando tem um caso contra o seu próximo, se atreva a ir a juízo perante os injustos, e não perante os santos? " (1 Coríntios 6:1, NVI). As decisões e disputas dentro da comunidade devem ser tratadas internamente: "Para vergonha de vocês que digo isso: será que não existe uma pessoa equilibrada entre vós, que pode tomar decisões justas quando desentendimentos e disputas surgem?” (V. 5, A Mensagem).

Os mestres e professores devem ensinar  as normas e regras que os crentes são chamados a obedecer, a fim de serem santos como D´us é e tem chamado o Seu povo para sê-lo. Mas, Sha’ul insiste, em falar sobre os processos judiciais: "Na verdade já é uma completa derrota para vós o terdes demandadas uns contra os outros. Por que não sofreis antes a injustiça? Por que não sofreis antes a fraude? Mas vós mesmos é que fazeis injustiça e defraudais; e isto a irmãos." (vv. 7-8, A Mensagem).

O procedimento de disputa que Yeshua delineou para os discípulos tem uma discussão particular entre as duas partes afetadas como seu primeiro passo: "Se o teu irmão cometer um pecado contra ti, vai e repreende-o - mas em particular, só entre vocês dois. Se ele te ouvir, você ganhou de volta o seu irmão.” (Mateus 18:15, BJC). Palavras de Yeshua não estão longe de ser uma reafirmação da Torá - "Não odeie seu irmão em seu coração, mas, repreende o teu próximo, com amor, para  você não levar o pecado dele." (Vayicrá 19:17, Bibel ) - A ênfase está no relacionamento pessoal. Com o objetivo de trazer não apenas a resolução de litígios, mas a restauração da relação; para não ganhar apenas o argumento contra o seu inimigo, mas ganhar de volta um irmão. Quando um irmão vê que você o ama o suficiente para conversar e ensinar sem lhe causar constrangimento ou vergonha, então você vai ganha-lo, mesmo que seja por causa de uma ofensa, trazendo assim unidade ao Corpo do Mashiach, que é a Sua Igreja: "Vede como é bom e agradável que os irmãos vivam em união." (Salmo 133:1,NVI).

O próximo passo é necessário, quando não se chega a um acordo ou a pessoa persiste na mesma atitude: "Se ele não ouvir, arranje uma ou duas pessoas com você para que toda acusação possa ser apoiada pelo depoimento de duas ou três testemunhas." ( Mateus 18:16, BJC).

A ênfase em testemunhas vêm diretamente da Torá: "uma só testemunha não se levantará contra alguém por qualquer iniqüidade, ou por qualquer pecado, seja qual for o pecado cometido; pela boca de duas ou de três testemunhas se estabelecerá o fato."(D'varim 19:15, NVI). Por que isso é importante? Porque ele protege ambas as partes na disputa! Não só as testemunhas têm de concordar que o delito é material, mas que você tenha feito todos os esforços para resolvê-lo e que o lado do agressor  também é ouvido e considerado. Rav Sha'ul confirma isso para as igrejas: "Toda palavra deve ser estabelecida pelo depoimento de duas ou três testemunhas." (2 Coríntios 13:1, ESV), o verbo grego 'estabelecer' é também 'defender',  “levantar se por alguém”,  tendo o mesmo significado ao verbo hebraico na Torá.

Será que nesta sociedade dita civilizada isso faz alguma diferença? Algumas pessoas têm muito forte o senso de justiça pessoal...por quase qualquer coisa alguém lhe leva a um tribunal,onde advogados ávidos por dinheiro, farão de tudo para convencer o juiz que a pessoa está certa ou então a pessoa pega uma arma e resolve a seu modo uma questão. Quer dizer não resolve, piora. Pelo que vejo e ouço aqui, briga-se por pouco, mata-se por menos e pior entre os crentes mata-se pela calúnia, pelas fofocas....para vergonha nossa devo confessar que trabalhei quatorze anos com uma Igreja Batista em Richmond, Virgínia e nunca, isso mesmo nunca ouvi uma fofoca. No Brasil em pouco tempo, fiquei estarrecido com tantas fofocas...será por quê? Será que é porque tomamos as dores do outro? Veja bem que Eleazar, tomou as dores de Moshe para o bem do povo e do próprio Moshe e não para tirar proveito da situação e fundar a sua própria igreja , como é costume nacional....

Provavelmente, você conhece casos e mais casos de homens e mulheres de D´us que têm sido massacrados, por calúnias, por injustiças, por fofocas e tiveram as suas vidas dilaceradas porque a Igreja não soube aplicar a regra que a Torá estabeleceu e oSenhor Yeshua ratificou em Mateus 5:38-48 e 18:15 – 22.

Jonathan Allen, encerra o seu comentário sobre esta Parashá fazendo umas perguntas interessantes: “ Quando você entra em disputa com alguém, você é conciliador ou contraditório? Você entra para ganhar o argumento ou ganhar a pessoa? Você quer vencer a qualquer custo? E ainda tenta se justificar dizendo que o fim justifica o meio?

O meu velho e sábio pai ( Nicinho, o Treme-terra), me ensinou: “ Dou um boi para não começar uma briga e uma boiada para sair dela rapidinho”.

Necessitamos hoje de pessoas como Eleazar, que se levanta para defender o seu irmão, que se põe entre uma pessoa irada e uma multidão ensandecida, como um verdadeiro sacerdote!!! Não precisamos de mais acusadores, não precisamos de mais pessoas apontando o dedo, não precisamos de pessoas como os que no passado quase apedrejaram a mulher pega em adultério. As pessoas se esquecem tão rapidamente que também têm os seus pecados...e querem fazer justiça a qualquer custo....lembre-se do provérbio bem brasileiro :" macaco não olha para o rabo".

Amados, que nós hoje sejamos cumpridores da Palavra de D´us e não apenas ouvintes.Que o Pai Eterno nos ajude a fazer as coisas certas e trazer glória ao Seu Santo e Bendito Nome. Que Ele nos abençoe.

 

Versões Bíblicas usadas:

BJC – Bíblia Judaica Completa.

BVN – Bíblia Vida Nova.

ESV – English Standard Version.

JPS – Jewish Publication Society.

 

Salvador 15 de Julho de 2015.

Rosh Jaime Araújo.