Temas Judaico-Messiânico - Parte 2

 

Objeções Judaicas ao Judaísmo Messiânico

Na primeira parte desse artigo relacionei algumas perguntas e respostas elaboradas por alguns escritores/teólogos cristãos a respeito do Judaísmo Messiânico e, em seguida, propus contra respostas que, fica a cargo do leitor aceitá-las ou não. Todos tem liberdade de pensar, examinar tudo e reter o que é bom. Nesta segunda parte, semelhantemente à primeira, apresento algumas objeções levantadas, desta vez por alguns judeus não messiânicos (não crentes em Yeshua como Messias) que, embora não sejam dirigidas diretamente ao Judaísmo Messiânico propriamente dito, mas sim à pessoa de Yeshua e, algumas vezes, ao Cristianismo, diz respeito também a nós, uma vez que também temos os escritos da Brit HaDashá (Nova Aliança) como documentos importantes que revelam mais profundamente a pessoa do Messias.

As objeções/argumentos estão na cor vermelha e as contra argumentações na cor preta.

 

Por que os judeus não acreditam em Jesus (Yeshua)?

 

Primeiro esta pergunta já não se aplica tão bem na atualidade, a pergunta mais apropriada hoje seria: Por que tantos judeus ainda não acreditam em Yeshua?

Pois o número de descendentes de judeus que estão reconhecendo Yeshua como Messias, em diversas partes do mundo, não para de crescer; inclusive na terra de Israel.

Deixei esta pergunta para ser respondida na conclusão deste artigo.

 

Os cristãos acreditam que Jesus é D'us e veio à terra em forma humana. E o próprio Jesus confirmou isso ao dizer: "Eu e o Pai somos um" (João 10:30). Maimônides ensinou (em Guia para os perplexos) que D'us é incorpóreo, ou seja, não assume forma física. D'us é eterno, acima do tempo. É infinito. Não pode nascer e não pode morrer. Dizer que D'us assume forma humana torna-O pequeno e mortal. Diz a Torá: "D'us não é um mortal" (Bamidbar/Números 23:19).

 

O fato de a doutrina cristã dizer que D'us veio à terra em forma humana, não significa dizer que isso foi ensinado por Yeshua. A frase "Eu e o Pai somos um" (João 10:30) tem seu significado totalmente esclarecido em Yochanan/João 17:20-23, e se refere a unidade.

João 17:20-23 - E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim. Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um. Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade...

Seriam os discípulos de Yeshua messias também, visto serrem um com Ele? Não! Mas estavam perfeitamente unidos num mesmo propósito.

Yeshua não teve por usurpação ser igual a D’us (Filipenses 2:6).

 

O judaísmo tradicionalmente ensina que o Messias nascerá de pais humanos, como qualquer outra pessoa. Não será um semideus, e não possuirá qualidades ou poderes sobrenaturais.

 

É preciso fazer uma separação entre o que o Judaísmo rabínico diz e o que o Judaísmo bíblico diz. Porque o Judaísmo rabínico não pode ser considerado como sendo igual exatamente igual ao Judaísmo vivido pelos profetas de Israel.

O relato original dos primeiros messiânicos, embora muito diferente do pensamento cristão tradicional também diverge do judaísmo rabínico moderno. Tem sua base fundamentada na crença defendida pelos profetas da Tanach (conhecido como Antigo Testamento).

Eles diziam que Yeshua era homem de carne e osso:

I João 4.2 - Nisto conhecereis o Espírito de D’us: Todo o espírito que confessa que Yeshua HaMashiach veio em carne é de D’us.

Adam (Adão) também era de carne e osso:

Bereshit/Gênesis 2.21 - Então o SENHOR D’us fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu; e tomou uma das suas costelas, e cerrou a carne em seu lugar.

Yeshua, tanto antes quanto depois da ressurreição, comia (Lucas 24.39-43), semelhantemente à Adam e sua mulher (Bereshit/Gênesis 1.29).

O problema referente à pergunta acima está em se querer considerar o Messias um homem comum como eu e você.

Adão, depois de pecar passou a ter um status inferior em relação ao que tinha antes de pecar, e receber a morte como maldição. É esse status inferior que nós herdamos.

Yeshua nasceu 100% homem, não como nós, mas sim como Adão em toda a sua plenitude, antes de pecar.

Adão foi gerado diretamente pelo Sopro (Espírito) de Adonai  (Gn 2.7), ou seja, não teve um pai humano.

Yeshua, da mesma forma, também foi gerado sem semente masculina (assim está registrado na Brit Hadashá - Nova Aliança – Lc 1.26-38). Isso o torna igual ao Adão do Éden antes de pecar, perfeito (com 100% da capacidade humana), propósito inicial do Criador.

O primeiro (Adão) falhou ao ser provado; o segundo, Yeshua, também foi provado, mas não falhou; por isso não deveria morrer, mas como se entregou para a morte (como resgate da humanidade), a ressurreição logo lhe devolveu a vida. Por esse motivo Ele tinha a coragem de dizer: ...o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai (João 10.17-18).

O Cristianismo, na verdade, o coloca como um semideus, mas uma interpretação justa da Brit HaDashá (Novo Testamento) detecta Yeshua dizendo que, de fato, só Adonai é Elohim (só o Senhor é D’us). Em Apocalipse 3.12 vemos Yeshua se referindo a Adonai como o Seu D’us.

Seus discípulos imediatos também O viam dessa forma:

II Corintios 1:3 - Bendito seja o D’us e Pai de nosso Senhor Yeshua HaMashiach, o Pai das misericórdias e o D’us de toda a consolação.

Ou seja, Yeshua tem um D’us.

No entanto, é preciso entender a aplicação do termo Elohim (D’us) naquela época, pois, pode ser aplicado para se referir a Adonai, à Melachim (Anjos), a autoridades (Juízes e etc) ou até mesmo a falsos deuses, dependendo do contexto. É, principalmente, daí que nasceu toda confusão sobre a identidade do Messias no meio cristão.

 

Muitos Judeus afirmam que não há na Torá (Lei de Moisés) a ideia de um intermediário entre Elohim (D’us) e a humanidade? 

No Judaísmo é proibido colocar um mediador entre D'us e o homem. Os Dez Mandamentos declaram: "Não terá outros deuses diante de mim". “A oração é assunto particular entre cada pessoa e D’us, que está perto de todos que clamam por Ele” (Tehilim/Salmos 145:18).

Mas é uma ideia básica na crença cristã a necessidade de um intermediário entre D’us e o homem. O próprio Jesus disse: "Nenhum homem chega ao Pai a não ser através de mim".

 

Negar que na Torá não há mediação entre humanidade e Adonai é querer tapar o céu com uma peneira! Basta ler os relatos que envolvem a saída do Egito, o episódio do Sinai e o papel sacerdotal da família de Arão para ver a mediação bem explícita. Na Tora, é clara a figura de um mediador.

Yeshua afirmou que ninguém chega ao Pai senão por Ele (Jo 14.6). No deserto ninguém chegava ao Pai senão através de Moisés ou Aarão. O próprio povo de Israel clamou por essa mediação:

Êxodo 20:19 - E disseram a Moisés: Fala tu conosco, e ouviremos: e não fale D’us conosco, para que não morramos.

Adonai está realmente perto de quem clama por Ele, mas escolhe um para falar cara a cara (Ex 33.11/Jo 12.49-50).

Moisés foi enviado por Elohim para mediar o processo de retirada e libertação do povo de Israel do Egito para levar à Canaã.

Yeshua foi enviado por Elohim para mediar o processo de libertação da humanidade da terra corrompida (Egito espiritual/maldição e morte) para levar ao Olam Rabá (Canaã espiritual/mundo vindouro).

Moisés, embora mediador, não era considerado igual à Adonai.

Yeshua, embora Mediador, nunca usurpou o ser igual a Adonai (Jo 13.16/14.28).

 

Baseado, principalmente, nos ensinos de Maimônides o Judaísmo rabínico afirma que o Messias deve construir o terceiro Templo; levar todos os judeus de volta à Israel; Introduzir uma era de paz mundial e terminar com o ódio, sofrimento e guerras; e como Yeshua não fez isso não pode ser Mashiach (Messias).

 

Este argumento não pode ter uma resposta satisfatória enquanto não for aceita a ideia de duas vindas do Messias (At 1.9-11/Ap 20.1-6), pois, está bem claro em sua mensagem que tudo isso ocorrerá quando Ele voltar para reinar .

Embora o Judaísmo moderno tente refutar a ideia de duas vindas do Messias, no Judaísmo antigo havia quem pensasse diferente.  

É preciso lembrar que o antigo conceito judaico de dois Messias - o sofredor - Ben Yosef (filho de José) e o glorioso - Ben Davi (filho de Davi) tem sua raiz nessa aparente divergência nos papéis do Messias.

 

Outro argumento utilizado para refutar Yeshua é que o Messias deve promover o conhecimento universal sobre o D'us de Israel, e na visão judaica tradicional, Yeshua não fez isso.

Antes de Yeshua as nações quase nada sabiam sobre o D’us de Israel. .

Logo após sua morte e ressurreição essa realidade começou a mudar, pois, a final de contas, se as nações da terra hoje conhecem sobre a Bíblia e sobre a existência de apenas um D’us no universo, foi graças à ordem Dele aos seus discípulos que isso veio a acontecer: “...Ide por todo mundo e pregai as boas novas à toda criatura” (Marcos 16.15).

Porém, esse conhecimento só atingirá toda sua plenitude quando Ele voltar e implantar seu governo na terra.

 

Argumenta-se que Yeshua não ensinou a completa observância da Torá (Pentateuco), um dos papeis do Messias.

Dizer que Yeshua não ensinou a obediência à Torá é ser injusto com Ele. Em um dos seus primeiros discursos Ele já começou dizendo que todos os mandamentos permanecem para sempre, condenou a adulteração e falso ensino da mesma (Mt 5.17-19).

 

Um dos papeis do Messias é promover a unificação da espécie humana, e isso não ocorreu.

A unificação da espécie humana é um conceito bem claro entre os ensinos de Yeshua e seus discípulos, porém, isso só acontecerá na sua segunda vinda, quando então Adonai reinará sobre todo o mundo.

João 10:11 - Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas.

João 10:16 - Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor.

I Corintios 15:28 - E, quando todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então também o mesmo Filho se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos.

Isso concorda com as palavras de Zacarias 14:9 - E o SENHOR será rei sobre toda a terra; naquele dia um será o SENHOR, e um será o seu nome.

Uma leitura honesta da Brit HaDashá (Nova Aliança) sem a influência de conceitos pré concebidos pode fazer uma diferença significativa.

Conclusão: os judeus que não creem em Yeshua como Messias, assim o fazem porque, ao invés de olharem para a realidade dos ensinos de Yeshua e de seus apóstolos, olham para a interpretação e forma de crença cristã.

 

Escrito por Edivaldo Cerqueira
(Congregação Moréshet Yeshua)